Por João Martins, Data Analytics & AI Manager
Exame Informática (E.I.): A Inteligência Artificial é hoje indissociável da transformação digital. Em que medida?
João Martins (J.M.): O tema da Inteligência Artificial é tão vasto que se confunde com a própria transformação digital. E vemo-lo, acima de tudo, no nosso dia a dia: já não se compra um relógio, mas sim um SmartWatch, tal como já ninguém utiliza a expressão “comprar um telemóvel”, mas sim um Smartphone. Fazendo uma transposição rápida para o contexto empresarial, em todos os setores, temos algo Smart. Seja no setor financeiro na componente de negócio (Risco e/ ou Fraude) ou no atendimento ao cliente, via chatbots. Nas utilities o termo contador inteligente passou a ser utilizado por todos. Na área industrial acompanhamos a transição para a “Indústria 4.0”, em que o grande diferencial está no início da utilização de Digital Twins ou na implementação de programas SixSigma. Nas telcos toda a componente de otimização de rede, entre outros exemplos que podemos dar. Já no retalho o tema da utilização de modelos avançados de forecast para melhorar a performance de todo o supply chain. E o que todos estes exemplos têm em comum? A utilização de processos de IA como suporte ao negócio. Mais do que uma transformação digital, através de projetos de Inteligência artificial, assistimos à transformação das decisões de negócio que passam a ter um suporte “inteligente”.
E.I.: Em 2021, menos de 10% das empresas que introduziram IA nos seus negócios conseguiram tirar real partido da tecnologia. Quais os desafios para uma boa utilização da IA nos processos e estratégias?
J.M.: Mentalidade. O grande desafio é conseguir demonstrar que a IA não é um “nice to have” mas começa a ser um “must have”. E conseguir passar a mensagem de que não é um tema de IT nem um tema de negócio, mas sim um tema transversal a toda a organização. Mas nesta mudança de mentalidade, as empresas (software vendors, integradores, implementadores, etc) têm um papel fundamental: passar a mensagem que, quando se fala em IA, fala-se em processo, em roadmap e não em soluções isoladas. Como em todos os momentos de alteração de paradigma de forma estrutural é necessário pensar a médio prazo. Inteligência Artificial é um processo, não um projeto.
E.I.: Que oportunidades pode trazer esta tecnologia às organizações?
J.M.: São vários os ângulos em que podemos perceber o que o mundo analítico e de IA aporta a uma organização. Dividiria em dois tipos de benefícios: os tangíveis e os intangíveis, em curto/médio e longo prazo. Benefícios tangíveis são aqueles mais fáceis de justificar, de mensurar, tais como o aumento de produtividade, diminuição de tempo de paragens, melhor assertividade em forecast, menor tempo de espera, em resposta a um serviço de suporte online, etc. Mas esse não é o core. O core está nos benefícios intangíveis que esta tecnologia traz à organização. Começando na base, no IT. Com um projeto de IA é possível perceber se há silos de informação, capacidade de melhoria e otimização da recolha de dados. Se entrarmos no campo do IoT e do tempo real este tema cresce exponencialmente. Um projeto de IA nasce no mundo dos dados. Para o negócio decidir com uma base analítica é totalmente diferente decidir apenas baseado na experiência ou nos números de um determinado relatório que apenas nos dá a visão descritiva. O mundo analítico tem de ser integrado e serve de suporte às decisões de negócio. Não as substitui. E isto é uma vantagem clara para a tomada de decisão. Reforça ou torna-se motivo de implementação de processos de melhoria na tomada de decisão. Para os software vendors há a necessidade de se adequarem ao cliente, não o contrário. Aos integradores, abre uma janela de oportunidade de conhecer melhor o negócio dos seus clientes e de criar sinergias entre o IT e o negócio. Finalizando, mais do que uma oportunidade de negócio é uma oportunidade de alteração de mentalidades. O mundo da IA deixou de ser algo novo e passou a ser uma comodity.
E.I.: Atualmente, e depois do impulso que a pandemia deu à transformação digital nas empresas, qual o estado da arte em Portugal?
J.M.: Portugal é um país curioso. E curioso porquê? Porque o que temos de vontade temos de medo de arriscar. Mas somos igualmente um país cheio de curiosidade. E a pandemia veio abrir uma “janela para o mundo”, ou seja, começamos a ser inundados de webinars, de conferências remotas, de um maior momento de partilha entre as organizações. E esta nossa curiosidade, determinadas áreas, serviu de catalisador para o arranque de novos projetos. “Ver para crer” é uma expressão muito portuguesa, mais do que aplicável a este momento de transformação digital. Começámos a olhar mais para fora e a perceber que este comboio da transformação digital tem de ser apanhado agora. Por outro lado, somos capazes de nos adaptar muito facilmente, de um momento para o outro conseguimos adaptar-nos à realidade do “online”. E se juntarmos estas duas características, curiosidade e adaptabilidade, conseguimos rapidamente perceber onde estamos e para onde vamos. Resumindo, neste momento, a transformação digital tornou-se uma realidade. Não há ponto de retorno porque rapidamente fomos expostos ao que de melhor é feito nesta área. E deixou de ser algo que apenas está ao alcance das grandes organizações porque as pequenas / médias perceberam que os seus pares estão a avançar.
E.I.: Quais os setores mais avançados a este nível em Portugal?
J.M.: Dividindo em três estágios diferentes: avançado, on going e potencial diria que, neste momento, serviços financeiros - setor da banca e seguros - estão num nível de maturidade muito elevado, bem como as utilities, oil & gas. Somos pioneiros no que fazemos nestas áreas. Somos bons. Realmente bons. O que temos de melhorar? O nosso marketing. Temos outras áreas igualmente avançadas como pharma, retalho, telcos. Na indústria farmacêutica já se fala em Pharma 4.0. Ou seja, ter o suporte de IA para todo o processo. No retalho todo o tema de supply chain já é uma realidade, seja através da utilização de IoT ou no processo de otimização de rotas. Nas telcos, com o arranque do 5G inúmeras decisões são tomadas com o apoio de AI. Curiosamente, onde há mais margem de crescimento, no nosso entender é na área da indústria. Temos uma indústria forte, capaz, onde se começa a assistir à mudança de mentalidades e, inclusive, exemplos onde empresas começam a ter o seu próprio diretor de inovação com poder de decisão, com visão e com a capacidade de perceber que se melhorar o seu Overal Equipent Efficiency (OEE). Na prática, disponibilidade, capacidade produtiva e qualidade, em qualquer um dos vetores, com suporte analítico, vai ser possível entender porque não produz com x% de qualidade ou tem as máquinas y% do tempo paradas.
E.I.: Que apoio pode a Noesis dar às organizações no seu processo de transformação digital através da IA?
J.M.: A Noesis pode suportar em estágio evolutivo uma organização no que são processos de IA. E aqui é indissociável o tema dos dados. Não é possível um projeto de IA ter sucesso sem uma consolidada arquitetura de dados. E a nossa área dentro da Noesis “nasceu” no mundo dos dados. Acompanhamos buzzwords como Big Data, Data Lake, Cloud, etc. Temos experiência demonstrada na base de todo o processo. Na componente de IA temos algo que consideramos diferenciador: não vemos um “projeto de IA”, vemos sim um “processo de IA”. E neste processo temos experiência nos vários setores e nos vários desafios que nos sejam lançados. Desde retalho, energia, área financeira, indústria. E mais do que essa experiência consolidada temos o compromisso de trabalhar em conjunto com o cliente. O que nós, Noesis, trazemos é a capacidade de implementar projetos na área analítica que sejam integráveis no ecossistema do cliente e que o apoiem na tomada de decisões de negócio. E para esses desafios contamos com uma equipa capaz, preparada e acima de tudo com vontade de ser desafiada, de criar soluções, implementá-las, e acompanhar o seu crescimento dentro do cliente.
Publicado em Exame Informática