Por Alexandre Rosa, CEO da Noesis
Tradicionalmente o ecossistema organizacional português apresenta uma forte litoralização, com uma grande concentração junto aos principais centros urbanos. A maioria das pequenas, médias e grandes empresas em Portugal estão sediadas ou representadas na área metropolitana de Lisboa ou do Porto.
A promessa de uma melhor qualidade de vida, mais oportunidades e maior competitividade laboral e uma maior proximidade aos centros de decisão, nomeadamente governamentais, são algumas das razões históricas apresentadas por parte das organizações e dos seus colaboradores para esta bipolarização territorial. Portugal é, nos dias de hoje, um país profundamente desequilibrado no que às assimetrias regionais diz respeito e nunca as desigualdades entre a estreita franja do litoral e todo o restante território continental foram tão acentuadas.
Neste sentido, e no contexto atual em que tanto se fala sobre o futuro do trabalho e novas formas de trabalhar, é fundamental que os responsáveis das empresas reflitam sobre como tornar as regiões do interior do País competitivas e apetecíveis para jovens profissionais altamente qualificados.
Os poderes central e local têm desenvolvido, nos últimos anos, um conjunto de políticas de incentivo e de descentralização que visam a construção e fixação de polos, escritórios e Centros de Competências no interior do território nacional. Algumas destas regiões são dotadas de Instituições Académicas com inegável qualidade pedagógica, como é o caso de Coimbra, Braga, Guarda, Covilhã, Évora, entre outras, e dispõem de condições únicas e diferenciadoras para se tornarem, efetivamente, regiões de referência, hubs de inovação e polos de emprego qualificado.
Cabe aos líderes empresariais, simultaneamente, colocar esta visão nas suas estratégias, e apostar claramente nesse caminho. Na criação de polos e presença nessas regiões, no desenvolvimento de parcerias com o poder local, na aproximação às instituições académicas que lá operam e no desenvolvimento de processos de recrutamento nestas mesmas regiões, procurando fixar alguns destes jovens altamente qualificados e contribuir para que se tornem locais atrativos para trabalhar (e viver).
Este movimento, trará benefícios inequívocos para todos. Desde logo, para as economias locais, mas também para as organizações. No sector da tecnologia, especificamente, vivemos um contexto atual de elevada escassez de talento, não só em Portugal, mas a nível global. Um cenário altamente competitivo, onde a “guerra” pelo talento está ao rubro e que a Pandemia veio exacerbar, não apenas porque acelerou as necessidades de transformação digital das empresas, mas também porque os novos modelos de trabalho remoto quebraram barreiras geográficas internacionais e tornaram o mercado e os profissionais portugueses ainda mais apetecíveis.
Em Portugal, onde a competitividade salarial é inferior à de outros países, a situação, portanto, agravou-se. É neste contexto que se torna prioritário criar outros fatores competitivos e diferenciadores, para além da componente financeira, que permitam reter, mas também atrair os melhores talentos para as nossas organizações. Fatores exógenos como melhor qualidade de vida, localização geográfica diferenciadora, menores níveis de stress, segurança, clima, entre outros, são vantagens competitivas do nosso País e que o as Regiões do interior podem e devem capitalizar.
Só através deste caminho será possível ter capacidade para continuar a crescer de forma sustentável e responder a novos desafios de um mercado cada vez mais exigente.
Publicado no Observador