A pandemia de Covid-19 abalou a economia nacional e obrigou a que muitos portugueses tivessem de inventar formas de adaptar os seus negócios, algo que impulsionou o crescimento das empresas que desenvolvem software, mas que também tiveram de se moldar à nova realidade.
"Mudou quase tudo na forma como trabalhamos e nos relacionamos no ambiente corporativo. Mudou o modo como nos relacionamos com os nossos clientes, com o mercado e os diferentes stakeholdersda organização", revela Alexandre Rosa, CEO da Noesis, ao Jornal Económico (JE).
Entre as alterações introduzidas na Noesis estão os trabalhos requisitados e Alexandre Rosa garante que "os temas relacionados com o crescimento exponencial dos dados disponíveis nas organizações, provocado pelo aumento do tráfego nos canais digitais e e-commerce, além de questões relacionadas com o customer experience", são áreas que estão em desenvolvimento desde a chegada da pandemia.
"As empresas estão mais despertas para o online. Notamos procura, quando era algo que muitas vezes ficava para segundo plano", admite ao JE Pedro Alves, CTO da Altyra, que teve um crescimento de 20 a 30% nos seus projetos desde que o coronavírus alterou a vida de milhões de portugueses.
Quanto ao teletrabalho, Pedro Alves admite que "houve dificuldade na adaptação, mas depois existiu melhoria na produtividade". "Nesta área, acho que faz todo o sentido. Estamos a ponderar adotar este sistema, porque as pessoas conseguem entregar o trabalho mais cedo, talvez porque não perdem tanto tempo a deslocar-se para o trabalho. Em equipa há muita desconcentração", garante.
Pedro Alves acredita que nesta matéria ainda há um longo caminho a percorrer. "Por ora, a cultura das empresas não está adaptada a essa realidade, tem de haver legislação adaptada a esta nova situação", afirma.
Sinais de expansão
Estas alterações são reflexos de "negócios que se estão a adaptar", explica ao JE Pedro Silva, CEO da Set Up Technology, cujo crescimento neste período foi de 30% a 40%. "Temos recebido muitos pedidos de orçamento, bastantes pedidos para lojas online, as pessoas começam a perceber que o online é uma mais-valia porque funciona em quaisquer condições", diz o responsável.
A empresa sempre se dedicou a desenvolver lojas virtuais, mas Pedro Silva confessa que "nunca tivemos tantos pedidos como nas últimas semanas, e isso mostra que as pessoas estão dispostas a fazer um upgrade ao seu negócio". A expansão também foi sentida na Void, conta João Mota, um dos administradores da empresa. "Tivemos novos projetos e um acréscimo de 30% da atividade média", lembra. Os pedidos surgiram a "nível de e-commerce. Muito foco nessa área, onde não estávamos muito concentrados", revela.
Nos últimos tempos a Void tem estado focada "no Leiria Market, que a Câmara Municipal decidiu disponibilizar ao comércio local", e na plataforma online que criaram para o movimento maker, dedicado à criação de viseiras 3D, que surgiu em Leiria. No mercado internacional, os pedidos também se alargaram. "Tivemos um acréscimo no negócio internacional, no caso da Suíça e dos Estados Unidos", relata o responsável pela Void, nomeadamente através do desenvolvimento de uma aplicação que funciona como uma rede social em ambiente laboral e que permite contactos à distância entre membros de instituições.
A crescente procura das empresas, dos mais variados setores, por novas soluções informáticas leva João Mota a acreditar num acentuado desenvolvimento tecnológico em Portugal. "Fizemos num mês aquilo que iria demorar dez anos a acontecer", garante ao JE.
E acrescenta: "agora já não haverá um retrocesso porque temos uma nova realidade, independentemente do que venha a ser o fim desta pandemia. Temos de criar formas de resiliência para que os nossos trabalhos não estejam tão expostos a este tipo de risco", alerta o administrador da Void.